Em laboratórios, indústrias e centros de pesquisa, medir com precisão não é suficiente. É preciso saber o quanto podemos confiar naquele resultado. É aí que entra um conceito essencial e muitas vezes ignorado: a incerteza de medição.
O que é incerteza de medição?
Segundo o Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM), a incerteza de medição é um parâmetro que caracteriza a dispersão dos valores atribuídos a um mensurando com base nas informações disponíveis.
Em termos simples: é uma forma de dizer “o resultado da medição é X, mas ele pode variar dentro desse intervalo aqui”.
A incerteza é calculada com base em diversos fatores, como a qualidade do instrumento, o procedimento de medição, a experiência do operador, as condições ambientais e a calibração do equipamento. Ela pode ser apresentada no certificado como incerteza expandida, geralmente com um nível de confiança de 95%, o que quer dizer que há 95% de chance de o valor real estar dentro daquele intervalo.
Por que a Incerteza de medição é importante?
Em qualquer processo onde há controle de qualidade, calibração de instrumentos de medição ou validação de processos analíticos, a incerteza é o parâmetro que define o nível de confiança que podemos ter no resultado obtido.
Ela serve como uma espécie de margem de segurança estatística para garantir que as decisões tomadas com base em medições são tecnicamente válidas.
Imagine que um instrumento indique que a concentração de um reagente é de 99,0%. Mas e se a incerteza for de ±2,0%? Significa que o valor real pode estar entre 97,0% e 101,0%. E se o seu processo só aceita variações até 98,0%?
Sem considerar a incerteza, você pode:
Ter problemas em auditorias ou validações
Aceitar um produto fora do padrão
Reprovar algo que estava dentro da especificação
Como aplicar a incerteza no dia a dia?
A incerteza de medição deve ser considerada toda vez que você analisa o resultado de uma medição, especialmente ao interpretar certificados de calibração. Não basta olhar apenas o valor medido. É preciso verificar também a incerteza expandida, que mostra o intervalo dentro do qual o valor verdadeiro provavelmente está. Esse intervalo geralmente vem indicado como “valor medido ± incerteza”, com um nível de confiança de 95%, usando um fator de abrangência (k), normalmente igual a 2,00.
No dia a dia, o uso da incerteza se torna essencial na análise crítica dos certificados de calibração. Sempre compare o valor medido somado e subtraído da incerteza com os limites de aceitação definidos no seu processo. Se esse intervalo ultrapassar o limite tolerado pelo processo, o instrumento pode não ser mais adequado para uso naquela aplicação, mesmo que o valor central esteja dentro da faixa.
Também é importante aplicar a incerteza ao avaliar resultados de ensaios, processos de controle de qualidade ou validações internas. Por exemplo, se você usa um termômetro para controlar uma estufa a 37,0 °C e ele foi calibrado com uma incerteza de ±0,8 °C, isso significa que a temperatura real pode variar entre 36,2 °C e 37,8 °C. Se o seu processo não admite variações tão grandes, esse termômetro talvez não seja adequado e essa decisão depende diretamente da análise da incerteza.
Outra aplicação prática está na definição de frequência de calibração. Equipamentos com incerteza mais alta ou que atuam em processos críticos devem ser calibrados com maior frequência. Já instrumentos com baixa incerteza e uso menos exigente podem ter um intervalo de calibração maior, desde que essa decisão seja baseada em avaliação técnica.
Por fim, registre tudo. A rastreabilidade das decisões técnicas envolvendo incerteza de medição é essencial para auditorias e para a confiabilidade do seu sistema da qualidade. Sempre que usar a incerteza para decidir se um instrumento pode ou não continuar em uso, registre a análise, os critérios considerados e a ação tomada.