Você já parou para pensar no que realmente significa “analisar um certificado de calibração”?
Não, não estamos falando só de abrir o PDF, ver se tem assinatura e arquivar para mostrar na próxima auditoria.
Analisar criticamente um certificado de calibração é olhar para aquele documento técnico e entender de fato o que ele está dizendo sobre o instrumento que você usa. E o mais importante: analisar se ele está adequado para o uso pretendido!
É como interpretar um exame médico: não basta apenas ter o resultado, é necessário entender se está dentro dos parâmetros aceitáveis.
No caso dos instrumentos de medição, isso envolve avaliar o erro encontrado, a incerteza associada e a rastreabilidade dos padrões utilizados. E claro, comparar tudo isso com o que o seu processo permite, o famoso critério de aceitação.
Por que isso é importante?
Confiar cegamente em um certificado sem essa análise pode colocar toda uma cadeia de produção, um lote de testes ou uma auditoria em risco.
Um certificado de calibração só tem valor real quando você sabe usá-lo como ferramenta técnica para tomar decisões seguras.
Primeiro precisamos entender: o que é um certificado de calibração?
O certificado de calibração é um relatório técnico emitido por um laboratório competente, que documenta os resultados da calibração de um instrumento de medição. Ele deve conter informações detalhadas sobre os desvios encontrados, a incerteza associada às medições e a rastreabilidade dos padrões utilizados. Esses elementos são fundamentais para avaliar se o instrumento está adequado para o uso pretendido.
A norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017 que define os requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração, detalha as informações mínimas que o certificado de calibração deve ter para garantir a confiabilidade dos resultados.
Entre essas informações obrigatórias estão: a identificação clara do item calibrado (como modelo e número de série), os resultados da calibração com as unidades de medida, a estimativa da incerteza de medição, a declaração de rastreabilidade metrológica, a identificação dos métodos utilizados, as condições ambientais relevantes (quando aplicáveis) e a assinatura ou identificação da pessoa autorizada pelo laboratório.
E aí já podemos iniciar uma análise crítica no certificado que recebemos: Ele contém todas as informações que a norma exige?
Aprovado ou reprovado?
Esse é o principal ponto em uma análise crítica de certificado de calibração.
Para decidir se um instrumento está aprovado ou reprovado, liberado ou não para uso, é necessário comparar os valores apresentados com critérios de aceitação.
E quem define esses critérios é o cliente ou o responsável técnico pelo processo, e não o laboratório de calibração.
Isso reforça a importância da análise crítica do certificado: por mais competente e acreditado que o laboratório seja, ele não pode afirmar se o instrumento está adequado para o seu processo específico. Esse papel é seu.
É por isso que analisar criticamente cada certificado de calibração é uma prática essencial para garantir medições confiáveis e decisões técnicas seguras.
Cada instrumento deve ter o seu próprio critérios de aceitação de acordo com o papel que ele irá desempenhar. Esse critério pode considerar a tolerância do processo e a incerteza de medição.
Como avaliar um certificado de calibração recebido
De maneira geral, este é um passo a passo simples, direto e técnico para fazer essa avaliação com segurança:
- Identificação do instrumento:
É um passo que parece bobo, mas é muito importante! Sem a identificação correta, todo o restante do certificado perde o valor, porque você não pode garantir que os resultados apresentados realmente se referem ao equipamento em uso. É como receber um exame médico com o nome de outra pessoa, os dados podem até estar certos, mas não servem para você.
Confirme se o certificado corresponde exatamente ao instrumento que foi calibrado.
Confira: modelo, número de série, fabricante e, se possível, a etiqueta física no equipamento. Um número errado pode invalidar toda a rastreabilidade.
A identificação do instrumento garante que o certificado realmente se refere àquele equipamento específico que você vai utilizar. Isso evita um erro grave: usar dados de calibração de um instrumento diferente, o que comprometeria totalmente a confiabilidade da medição e poderia gerar riscos técnicos, não conformidades em auditorias ou retrabalhos em processos críticos.
- Resultados da calibração:
Observe os valores medidos e os desvios apresentados em cada ponto testado. Compare esses valores com os critérios de aceitação definidos por você. O foco é entender o quanto o instrumento está se afastando do valor ideal em cada ponto de calibração.
É aqui que começa a análise crítica de verdade: está dentro do que seu processo tolera?
Dica técnica: Fique atento se o laboratório apresentou os resultados em forma de porcentagem, erro absoluto ou valor medido e análise todos eles em conjunto com a incerteza de medição, que virá no próximo passo. Observe também as unidades apresentadas, seus múltiplos e submúltiplos.
- Incerteza de medição:
Verifique se a incerteza está declarada e se é compatível com os seus requisitos e ao nível de exatidão exigido pela sua aplicação.
📌 Lembre-se: mesmo que o erro esteja “pequeno”, a incerteza pode empurrar o valor para fora da tolerância. Você só confia na medição se confia também no “intervalo de dúvida”.
- Rastreabilidade metrológica:
A rastreabilidade metrológica é o que dá credibilidade técnica aos resultados apresentados no certificado. Ela garante que os valores medidos estão conectados, por uma cadeia ininterrupta de comparações, a padrões de referência.
O certificado deve indicar quais padrões foram usados, com identificação clara e a data da última calibração de cada um deles. Sem isso, o resultado perde validade técnica.
- Conformidade com a norma ISO/IEC 17025:
Certifique-se de que o certificado atende aos requisitos estabelecidos pela norma, incluindo informações sobre o método de calibração, condições ambientais e data da calibração.
O certificado deve conter todos os elementos exigidos pela norma, como:
- método utilizado
- condições ambientais (temperatura, umidade)
- data da calibração
- responsável técnico
- identificação do laboratório (inclusive número de acreditação, se aplicável)
💬 Se houver declaração de conformidade (“aprovado” ou “reprovado”), verifique se está com base em critérios definidos por você.
Como evidenciar a análise crítica dos certificados de calibração
Para demonstrar que a análise crítica foi realizada:
- Registre a análise: Documente a avaliação realizada, incluindo os critérios de aceitação utilizados e a conclusão sobre a adequação do instrumento.
- Mantenha registros organizados: Armazene os certificados de calibração e as análises críticas de forma organizada e acessível para auditorias e revisões.
- Atualize procedimentos: Reveja periodicamente os critérios de aceitação e os procedimentos de análise crítica para garantir que estejam alinhados com as necessidades do seu processo e as melhores práticas.
A análise crítica de certificados de calibração é uma prática essencial para assegurar a confiabilidade das medições e a conformidade dos processos.
Ao estabelecer critérios de aceitação claros e avaliar cuidadosamente os certificados recebidos, é possível tomar decisões informadas sobre a utilização, manutenção ou substituição de instrumentos de medição.
Lembre-se de que a calibração é apenas uma parte do controle dos instrumentos. A análise crítica dos certificados é o que garante que os instrumentos estejam realmente aptos para o uso pretendido, contribuindo para a qualidade e a segurança dos processos.